Stablecoin EURAU: a resposta da Europa ao domínio do dólar?

Mercado Financeiro

Há anos, a Europa assiste de camarote ao avanço das stablecoins lastreadas em dólar. Agora, com o lançamento da EURAU — uma stablecoin em euro apoiada pelo Deutsche Bank, Galaxy Digital e Flow Traders — o jogo começa a virar. Ou pelo menos, essa é a narrativa que o mercado europeu tenta emplacar. Mas será que o euro digitalizado chega tarde demais?

A cartada institucional

A EURAU não é uma tentativa isolada de start-ups tentando competir com Tether (USDT) ou USDC. Ela nasce do seio institucional da Europa: com apoio da AllUnity, uma iniciativa que reúne pesos-pesados do mercado financeiro tradicional e cripto. Com regulamentação da BaFin e alinhamento com o regulamento MiCA, a EURAU busca se posicionar como o padrão regulatório europeu para stablecoins.

E aqui está o ponto interessante: a Bullish Europe, já licenciada pela BaFin, será a primeira exchange a listar a nova moeda. É uma jogada estratégica. A Europa não quer apenas criar uma stablecoin — ela quer um ecossistema funcional, auditável, rastreável e com selo regulatório.

O problema: timing

A EURAU surge em um momento em que stablecoins em euro representam míseros 0,2% do mercado, segundo dados do CoinGecko. Ou seja, é um lançamento cercado de boas intenções… mas em um terreno árido. O domínio das stablecoins atreladas ao dólar não é técnico: é geopolítico. Em última instância, o mercado cripto ainda se move conforme a liquidez que vem dos EUA.

Então por que a EURAU importa? Porque é uma tentativa explícita da Europa de reequilibrar esse jogo. Ainda que tardiamente.

Crescimento promissor, mas…

É verdade que as stablecoins em euro cresceram 60% desde dezembro de 2024 — um salto considerável. Mas crescer de uma base pequena não significa muito no contexto macro. O USDT da Tether sozinho vale mais de US$ 160 bilhões. Comparar isso com os US$ 484 milhões da EURAU é como medir uma poça contra um oceano.

Porém, o crescimento recente mostra que existe demanda reprimida por alternativas mais alinhadas às políticas monetárias locais, especialmente entre bancos europeus, plataformas de investimento e empresas que não querem expor-se ao risco cambial do dólar.

Um modelo diferente?

Enquanto o USDT prosperou sob uma lógica quase obscura — com dúvidas recorrentes sobre lastro e transparência —, a EURAU tenta trilhar outro caminho: regulamentação antes da escala. Pode parecer ineficiente, mas talvez seja a única maneira de convencer instituições públicas, empresas e governos a adotarem uma stablecoin de fato.

O apoio de entidades como a BitGo, Fireblocks, V-Bank e outros reforça esse foco na infraestrutura robusta.

Minha leitura

A EURAU não vai desafiar o USDT em volume. Pelo menos não em 2025. Mas ela pode se tornar o novo padrão europeu — especialmente se o euro digital do Banco Central Europeu demorar. Esse vácuo pode ser justamente o que AllUnity está tentando ocupar.

Mais do que uma moeda estável, a EURAU é uma declaração política: a Europa está disposta a brigar por protagonismo no sistema financeiro digital.

A grande questão é se o mercado está disposto a esperar.