🇧🇷 Brasil nada contra a maré: enquanto o mundo injeta bilhões em cripto, por que seguimos retirando?

Mercado Financeiro

Na contramão do fluxo global, o Brasil registrou uma retirada líquida de US$ 28,1 milhões em fundos de criptomoedas na semana encerrada em 25 de julho. Enquanto isso, o mundo viu um recorde positivo de US$ 1,9 bilhão entrando nesse mercado — com destaque absoluto para os Estados Unidos. A pergunta inevitável é: o que justifica o descompasso brasileiro? Medo, lucros ou atraso estratégico?

A estatística esconde um dilema maior

Se isolarmos o número, a saída semanal de US$ 28,1 milhões (aproximadamente R$ 156,2 milhões) pode parecer mais um movimento tático de realização de lucros — algo natural, principalmente após meses de forte valorização do Bitcoin e das principais altcoins. No entanto, o dado torna-se mais incômodo quando comparado ao contexto internacional.

Na mesma semana:

  • EUA: +US$ 2,03 bilhões
  • Suíça: +US$ 75,7 milhões
  • Alemanha: +US$ 69,9 milhões
  • Austrália: +US$ 11,4 milhões
  • Brasil: -US$ 28,1 milhões

Não estamos sozinhos na retração (Hong Kong, Canadá e Suécia também recuaram), mas há um detalhe incômodo: o Brasil tem uma das maiores bases de usuários de cripto do mundo. E isso deveria refletir em movimentações mais alinhadas com tendências globais — não o oposto.

Realização ou aversão?

É possível que parte dessas retiradas seja, sim, realização de lucros. Os dados mensais e anuais (respectivamente US$ 82,1 milhões e US$ 51 milhões retirados) apontam para uma consistência nesse comportamento. Mas também é legítimo se perguntar: por que realizamos agora, enquanto o mundo dobra a aposta?

Essa é a diferença entre investidor e especulador.

O investidor internacional está se posicionando para o próximo ciclo: ETFs de altcoins estão ganhando protagonismo, com destaque para fundos baseados em Ethereum, Solana, XRP e até tokens emergentes como o SUI. Há, portanto, uma crença estrutural no crescimento do setor cripto — o que explica os recordes de entradas líquidas (US$ 11,2 bilhões apenas em julho).

O investidor brasileiro, por outro lado, ainda parece operar com mentalidade de curto prazo. Compra no hype, vende no pico, mas raramente constrói uma tese de longo prazo. E isso tem um custo.

Oportunidade ignorada?

Enquanto países como Alemanha e Suíça ampliam sua presença nos fundos cripto, o Brasil mantém um AuM (ativos sob gestão) de US$ 1,6 bilhão — o que nos coloca na sexta posição global. Não é pouco, mas é estagnado. E pior: sob risco de perder espaço caso o comportamento atual se mantenha.

A movimentação dos ETFs também deveria servir de alerta. O iShares Ethereum Trust ETF sozinho atraiu US$ 1,29 bilhão. Não estamos falando de promessas ou whitepapers, mas de veículos regulados, aprovados, institucionalizados. O capital inteligente está entrando agora. O varejo brasileiro, infelizmente, parece estar saindo.

Uma cultura de oportunidade perdida

Não se trata apenas de volatilidade ou de um possível cenário macroeconômico local mais apertado. O Brasil sempre teve dificuldade em desenvolver uma cultura de investimento sofisticada. Apesar da adoção cripto ter sido rápida, ela não foi acompanhada de uma educação sólida sobre o que esses ativos representam — e isso cobra seu preço.

É como se o brasileiro tivesse se apaixonado pela tecnologia, mas ainda desconfiasse da própria decisão.

Conclusão: Brasil, você vai perder esse bonde?

O mercado cripto está em franca expansão. Os fundos institucionais estão mais ativos do que nunca. As altcoins estão finalmente ganhando espaço real em alocações sérias. E o Brasil… está vendendo.

Se essa postura se manter, não só ficaremos para trás — seremos os últimos a perceber o quanto essa cautela custou.